15/04/2008

Bonow defende vagas para internação em hospitais psiquiátricos Jornal da Câmara Segunda-feira, 14 de abril de 2008

Bonow defende vagas para internação em hospitais psiquiátricos
Jornal da Câmara
Segunda-feira, 14 de abril de 2008

O deputado Germano Bonow (DEM-RS) defendeu a reabertura de vagas para tratamentos psiquiátricos dentro do sistema público de saúde. Segundo ele, o fechamento dos manicômios no Brasil foi uma decisão acertada, mas uma parte das pessoas com distúrbios mentais precisa de internação e cuidados, e não encontra instalações adequadas. "A ciência da psiquiatria evoluiu muito, apresentando novos medicamentos e novas técnicas terapêuticas", disse.

Bonow, que é médico e já foi secretário estadual de Saúde, lembrou a luta antimanicomial, encabeçada na Câmara pelo ex-deputado Paulo Delgado (PT-MG), que culminou com a aprovação da Lei da Reforma Psiquiátrica (Lei 10.216/01). Com isso, foram extintos cerca de 120 mil leitos em hospitais psiquiátricos, que foram em sua maioria fechados. Bonow ressaltou não querer a volta dessa política, pois "manicômio é sinônimo de asilo, de prisão, de depósito, de hospital em péssimas condições de higiene", mas ressaltou a necessidade de repensar o destino "de milhares de pessoas que precisam de assistência continuada".

Bonow mostrou várias matérias de jornais com casos de pessoas sem assistência, que têm problemas mentais e procuram internamento, e assumiu a parte da responsabilidade pelo processo, uma vez que, como deputado estadual, participou da elaboração das leis que desmontaram os manicômios no Rio Grande do Sul, em 1992. A lei previa uma revisão em cinco anos, que nunca foi feita. Segundo o deputado, foram cortados gastos públicos com a redução de leitos, mas também foram desalojadas milhares de pessoas que estavam internadas nos hospitais e passaram a perambular pelas ruas. Quase todos os estados seguiram esse modelo, e restam poucos hospitais especializados, como o Hospital Psiquiátrico da Universidade de São Paulo, com 81 leitos, disse Bonow.

Com a estabilização da economia e a municipalização do sistema de saúde, a situação do País mudou muito, na avaliação do deputado, mas foi criado "um tabu" em torno do tema, e discutir a volta da internação de doentes mentais gera uma resposta negativa, apesar de existir um contingente de pessoas que de fato necessitam dessa internação. Germano Bonow elogiou o sistema atual, que se baseia nos Centros de Atendimento Psicossocial (Caps), mas avaliou que ele busca substituir o tratamento hospitalar pelo ambulatorial, tem centros de convivência em processo de instalação, mas conta com poucos médicos psiquiatras e ainda menos leitos para internações. Para o deputado, o governo Lula merece elogios por esse trabalho, mas, por melhor que faça o governo, nas 479 residências terapêuticas, cabem apenas 4 mil pacientes, disse.

A questão é, também, ideológica, segundo o deputado, pois, por mais que a política brasileira esteja de acordo com números aceitáveis pelas técnicas de saúde pública, houve um exagero e há poucas alternativas quando é preciso fazer internações. Bonow explicou que países como os Estados Unidos e a Inglaterra, que fizeram reformas psiquiátricas semelhantes, ainda reservam vagas de internação, e nenhuma das convenções internacionais as condena.