18/04/2008

Papa admite que Igreja administrou mal escândalo de pedofilia


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17/ABRIL/08

Papa admite que Igreja administrou mal escândalo de pedofilia

Bento XVI pede a bispos americanos para promoverem a reconciliação com os que foram atingidos pelos abusos sexuais. Na Casa Branca, Pontífice não menciona guerra no Iraque

José Meirelles Passos

Correspondente

WASHINGTON. Em seu primeiro dia de cerimônias oficiais nos Estados Unidos, o Papa Bento XVI reconheceu ontem que a Igreja administrou mal o escândalo de abusos sexuais de mais de 12 mil crianças por sacerdotes católicos no país. As palavras do Pontífice foram ditas num discurso para os bispos americanos, em Washington, minutos depois de o presidente da Conferência Episcopal dos EUA, o cardeal Francis George, ter usado a expressão para condenar a resposta da Igreja e as conseqüências disso.

- É uma responsabilidade dada a nós por Deus, enquanto pastores, de fechar as feridas causadas por cada quebra de confiança, de encorajar a cura, de promover a reconciliação e de estender a mão de forma carinhosa para aqueles que foram tão seriamente prejudicados - disse Bento XVI.

O Papa disse concordar com as declarações do cardeal George, dizendo que, apesar de a resposta à crise "não ser fácil", ela foi "algumas vezes muito mal administrada".

O líder da Igreja Católica assegurou que apenas recentemente "a escala e a gravidade do problema" foram mais bem compreendidas.

A frase foi interpretada como uma crítica aos prelados americanos responsáveis pelas primeiras averiguações da Igreja.

Bento XVI critica aceitação de católicos a divórcio e ABORTO

Condenações na Justiça americana mostram que, por anos, padres suspeitos de abuso de crianças em vez de punidos pela Igreja foram só transferidos de paróquia.

A Igreja foi acusada de prejudicar investigações da polícia Inserindo o problema num contexto mais amplo, o Papa exortou os membros da Igreja a "reconhecer e enfrentar o problema dos abusos sexuais no contexto eclesiástico" para oferecer uma orientação aos demais, "já que essa praga se encontra também em cada setor da sociedade".

- (As crianças) Devem ser poupadas das manifestações degradantes e da manipulação crua da sexualidade tão prevalecente (na sociedade).

O Papa também fez críticas ao estilo americano de religiosidade, no qual a religião convive bem com a sociedade secular, mas acaba aceitando coisas como o divórcio e pesquisas com célulastronco, o que, segundo ele, "reduz a crença religiosa a um mínimo denominador comum": - É consistente professar nossas crenças na igreja domingo e, durante a semana, promover práticas de negócios ou procedimentos médicos contrários a estas crenças? É consistente que católicos praticantes ignorem ou explorem os pobres, promovam uma comportamento sexual contrário ao ensinamento moral católico ou adotem povosições que contradizem o direito à vida de todo ser humano, da concepção à morte natural? Horas antes do discurso para os bispos, os americanos que andam descontentes com a guerra no Iraque ficaram decepcionados pelo fato de o Papa não ter manifestado, em público, o seu desagrado em relação ao conflito, durante o seu curto discurso ontem de manhã na Casa Branca.

Tanto ele quanto o presidente George W. Bush, que o recebeu diante de 13.500 convidados aglomerados no jardim da Casa Branca sob o sol, evitaram tocar em assuntos polêmicos. A cerimônia foi nutrida mais por simbolismo do que por substância.

Papa ressalta "sociedade pluralista" americana

Papa ressalta "sociedade pluralista" americana Bush agradeceu ao Papa "pela orientação espiritual e moral que oferece a toda a família humana".

O Pontífice respondeu à altura: disse que vinha "como um amigo, um pregador do Evangelho, com grande respeito por essa vasta e pluralista sociedade". Ao final, enquanto o visitante respondia com as mãos os acenos, a platéia irrompeu a cantar "Parabéns a você", enquanto Bush e a primeira dama Laura lhe apresentavam um bolo comemorativo de seus 81 anos, completados ontem.

O Papa só fez uma sutil e indireta menção à guerra: - Estou confiante de que a preocupação (dos EUA) com a grande família humana continuará a encontrar expressão no apoio a pacientes esforços de diplomacia para resolver conflitos e promover o progresso.

Bush fez o mesmo, aludindo vagamente ao ABORTO e às pesquisas com células-tronco: - Num mundo onde alguns tratam a vida como algo a ser degradado e descartado, nós precisamos da sua mensagem de que toda vida humana é sagrada - disse ele.

Depois, ambos conversaram a sós durante 45 minutos, dos quais resultou um curto comunicado conjunto listando os temas discutidos: imigração, o conflito Israel-Palestina, o terrorismo e a luta contra a pobreza.