30/04/2008

SORO DISCORDANTES

Segundo os especialistas, há uma série de fatores ligados à transmissão do HIV entre casais sorodiscordantes.

Adquirir outras doenças sexualmente transmissíveis (DST), por exemplo, aumenta a chance de transmissão do HIV.

Dados da literatura mostram também que o fato de saber-se portador do HIV não implica, necessariamente, em uso do preservativo em todas as relações sexuais, mesmo com parceiro não portador ou de sorologia desconhecida.

O Ipec, em parceria com o Hospital Geral de Nova Iguaçu (HGNI) no projeto, está recrutando voluntários para participar do estudo.

Os casais participantes têm garantido o sigilo das informações e o benefício de receber assistência clínica em HIV/Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis, aconselhamento individual e de casal voltado para a saúde sexual e reprodutiva.

Os casais que desejam participar do projeto devem atender aos seguintes requisitos: estar em um relacionamento onde apenas um dos dois seja portador do vírus da Aids e nunca ter usado medicamentos para tratamento da Aids.

Podem ser casais heterossexuais ou homossexuais masculinos.

"Um dos aspectos importantes do projeto desenvolvido pela Fiocruz é o cuidado com a saúde dos parceiros.

Questões relacionadas ao impacto da revelação diagnóstica ao parceiro soronegativo, aos direitos sexuais e reprodutivos, aos cuidados necessários para a prevenção do HIV, entre outras, são discutidas com o casal", explica a psicóloga Sandra Lúcia Filgueiras, que participa do projeto.

Para outro integrante da equipe, o psicólogo Nilo Martinez, a socialização dos casais é um dos destaques da pesquisa.

"Conviver com as pessoas que passam pela mesma situação, conversar sobre questões dos sorodiscordantes que não estão necessariamente presentes na vida de uma pessoa soropositiva sem parceiro soronegativo, faz com que o casal se sinta acolhido. É a sensação de pertencimento, de fazer parte de um grupo, de verificar que o outro também tem os mesmos problemas", explica Nilo, acrescentando que os aconselhamentos e as dinâmicas de grupos de casais são técnicas que têm dado resultados significativos.

"O avanço terapêutico e científico no tratamento da doença tem permitido que as pessoas se relacionem apesar do vírus. Hoje, não se fala mais em grupo de risco e sim, se discute as condições que colocam as pessoas em maior ou menor vulnerabilidade para a Aids. A prevenção continua sendo o grande desafio, pois implica em mudanças de atitude diante da vida e seu enfretamento envolve o compromisso de toda a sociedade. Todos podem estar vulneráveis em algum momento de suas vidas", diz a diretora do Ipec, a infectologista Valdiléa Veloso, que sublinha que "apesar das melhorias do tratamento ainda temos muito que avançar em relação à estigmatização e à discriminação das pessoas que vivem com a Aids".

A pesquisa internacional é coordenada pela Rede de Ensaios para a Prevenção do HIV (HIV Prevention Trials Network - HPTN), dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) do governo americano.

O estudo foi analisado e aprovado por comitês de ética em pesquisa brasileiros e internacionais, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e é acompanhado pelo Comitê Comunitário Assessor (CCA), formado por representantes da sociedade civil.